Saturday, May 09, 2009

Velofluxos do espaço-tempo / Fernando Cocchiarale

Velofluxos do espaço - tempo_ (Balão)

Fernando Cocchiarale

O trabalho de Suzana Queiroga floresceu na década de 1980 em sintonia com as expectativas mais vitais da época. Assim como a maioria dos que se iniciaram nas artes nesse período, ela se tornou pintora. No entanto, é preciso observar que seu trabalho estava na contramão dos repertórios dominantes, comumente figurativos e de base expressionista. Avessa a esses repertórios, Suzana aproxima-se, ao menos aparentemente, da abstração construtivista.
No caso da produção de Queiroga, a expansão para o espaço foi prenunciada desde o começo de sua trajetória. Com a construção de suportes com diferentes configurações formais suas pinturas já indicavam a possibilidade de um transbordamento para além dos limites estabelecidos pelo retângulo do quadro, designado pela tradição como o lócus da pintura.

A partir do momento no qual a expansão se torna a questão poética central da artista podemos sumarizá-la nos seguintes passos: Tropeços em Paradoxos (sobretudo aqueles trabalhos feitos com encáustica sobre madeira recortada e os grandes infláveis vermelhos - 2002); O projeto In Between (no qual foram mostradas as obras Stein und Fluss, Dobra e Hermes); as pinturas Stein und Fluss, Tropeços em Paradoxos, Duplo sistema, Sistema Flutuante e Sistema em Curva, o inflável penetrável Vitória Suíte, e, finalmente, os Velofluxos, que representam, enfim, a introdução inequívoca da narrativa, isto é, do compromisso entre obra, vida e mundo, na obra de Suzana.

Baseados em plantas de espaços urbanos reais (Londres, Berlim, Milão, Rio de Janeiro, Brasília, etc.), sem, contudo, descrevê-los, os Velofluxos são trabalhos sobre redes de fluxos (análogos às malhas urbanas) e suas irradiações no tempo. Mas eles são, sobretudo, paisagens pintadas segundo pressupostos bastante diversos daqueles das cenas ao ar livre que se descortinavam através da janela pictórica renascentista. Vistas de cima, em planta, sem a profundidade do horizonte, essas paisagens apresentam-nos fragmentos da superfície terrestre. Os Velofluxos vão além do campo estritamente ótico característico da série de pinturas Stein und Fluss (2004), já que transbordaram da percepção para o mundo (mapas).

Talvez o mais emblemático desses trabalhos seja o Vôo-Velofluxo: um balão de ar quente, coberto de cores fluorescentes, ancorado por cordas e projetado para levar o visitante a fazer um vôo cativo de 45 metros de altura. O balão-pintura de Suzana Queiroga permite-nos observar do alto não só um panorama de 360°, como também ver outras possibilidades de capturar a paisagem, como aquela, em planta, origem de seu projeto Velofluxo.